REFLEXÃO
O
poder dos relacionamentos...
A
gente vive num tempo em que os referenciais foram perdidos. Uma
onda de decepção e descrédito toma conta dos relacionamentos e
conduz a uma perda da confiança nas instituições, a uma
fragmentação das relações e à relativização do saber. A decepção
com aqueles que deveriam ser exemplos tem marcado muitos
aspectos de nossa afirmação. Diariamente somos informados de
políticos que se corrompem, líderes religiosos que se envolvem
em problemas morais, pessoas do mundo dos negócios que se
envolvem em transações desonestas. Isso está mais presente no
nosso cotidiano do que imaginamos: no trânsito, na escola, na
família, nas pequenas atitudes. Até mesmo os nossos maiores
heróis – nossos pais – já nos decepcionaram.
O
problema é que a gente aprende a partir de modelos. Se não temos
referenciais, o improvável toma conta, a incerteza quanto ao
futuro pode nos paralisar e a insegurança com o presente pode
nos levar a uma busca de solução individualista. A necessidade
de afirmação pessoal faz surgir uma sociedade consumista em que
tudo passa a ser tratado como produto. O grande mestre desses
tempos de incerteza passa a ser aqueles que servem como modelos
de consumo e de exposição na mídia. É a síndrome de influência
das celebridades, que passam a ditar o que é mais importante na
moda, no estilo de vida e nos hábitos da sociedade.
Até mesmo na vida religiosa a falta de exemplos afeta as
relações de fé. Hans Urs von Balthasar já advertia que na
religião cristã já não se faz santos como antigamente. Desde há
muitos séculos não se via mais na igreja muitos teólogos que
fossem também santos. Entretanto, Jesus reconheceu que a força
da fé está mais no testemunho de vida que seus seguidores podem
dar do que na quantidade de informações que possuem sobre
religião. Jesus disse ao seus discípulos ao final de seu
ministério: "Vocês são testemunhas destas coisas." Lucas 24.48.
Testemunhar é uma palavra que, no grego, está associada à ideia
de martírio. O papel da testemunha é validar a veracidade dos
argumentos que envolvem a percepção e a interpretação da
realidade. Há uma exigência para a testemunha: o compromisso com
a verdade ainda que isso envolva um ônus. O custo para aquele
que segue a Jesus Cristo é servir de exemplo para a humanidade
toda, ainda que isso envolva o risco de sua própria vida. Jesus
sabia disso. Por isso, afirmou que seus discípulos são o sal da
Terra e a luz do mundo por causa dos seus exemplos de vida.
Ainda que fossem poucos, a força do exemplo daqueles que seguem
a Jesus poderia fazer a grande diferença.
A sociedade carece de bons
exemplos sobre o que é viver de forma feliz, identificado com
Cristo, firmado na fé e na esperança em um Deus amoroso, gente
que tenha acolhido o seu convite de forma autêntica e
perseverante. Paulo orientou a Timóteo: "seja um exemplo para os
fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza."
1 Timóteo 4.12. É nisso que reside o poder dos nossos
relacionamentos: a capacidade de influenciar as pessoas que nos
envolvem com a força de nosso testemunho. Eu creio que é disso
que a fé cristã mais precisa hoje.